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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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O dia em que o taxista perdeu a cabeça

Por Andre Barcinski
05/03/13 07:05

Foi o assunto da semana na cidade: “O quê? Você não soube? O M. tá em cana, bateu em duas mulheres!”

Parecia mentira. M. é um taxista, muito conhecido e querido na cidade. Parece um sujeito calmo. Nunca o vi levantando a voz ou discutindo com alguém. Era difícil acreditar que ele havia batido em duas mulheres. Simplesmente não combinava com sua imagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os detalhes do caso foram surgindo. E foi outro taxista, companheiro de M. no ponto de táxi, que me contou como tudo aconteceu.

Segundo ele, M. estava tomando café em um bar, quando viu as duas mulheres. Ele já as conhecia. Aliás, a cidade toda conhece as duas.

Há pelo menos três anos, as duas mulheres cumprem o mesmo ritual: chegam à cidade de manhã, acompanhadas dos respectivos filhos, dois meninos que não têm mais de dez anos de idade.

Elas vão para o bar, enquanto os filhos passam a tarde toda vendendo doces e balas na cidade. No fim da tarde, as mães recolhem o dinheiro arrecadado pelos meninos, pagam a conta das inúmeras cervejas que tomaram no bar, e voltam para casa com os meninos.

Todo mundo já sacou a história. Inclusive a polícia, que alertou as mulheres diversas vezes sobre as consequências de exploração de trabalho infantil. Mas o caso é complicado. Os meninos não acusam as mães, claro, e as autoridades locais não têm o que fazer.

Segundo o pessoal do ponto de táxi, M. sempre foi revoltado com a exploração das crianças e vivia discutindo com as mulheres. Até que, um dia, viu uma das mães reclamando com o filho que a grana arrecadada naquele dia não tinha sido suficiente.

“Foi uma coisa de cinema”, me disse o taxista, amigo de M.: “A mulher bateu na criança. Daí o M. ficou roxo que nem uma beterraba, entrou no bar e começou a bater nas duas. Estava fora de controle. Parecia coisa de desenho animado, ele até bateu a cabeça de uma na cabeça da outra!”

A polícia chegou e levou M. para a delegacia, mas ele não ficou lá por muito tempo. As mulheres foram embora e não prestaram queixa, certamente para não chamar atenção para a exploração de seus filhos.

Claro que não dá para aprovar a atitude de M. Mas espero que o incidente sirva, ao menos, para que as mulheres parem de explorar as crianças.

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Lembranças do CBGB paulistano

Por Andre Barcinski
04/03/13 07:05

Hoje, às 19h30, estreia no canal Bis o documentário “Napalm: O som da cidade industrial”, dirigido pelo jornalista Ricardo Alexandre, ex-editor da “Bizz” e autor dos livros “Dias de luta” e “Nem vem que não tem: A vida e o veneno de Wilson Simonal”.

 


 

O Napalm foi uma das casas noturnas mais importantes da cena alternativa paulistana dos anos 80. Durou apenas cinco meses – de julho a novembro de 1983 – mas ajudou a revelar bandas como Ira!, Ratos de Porão, Ultraje a Rigor, Inocentes, Mercenárias, Voluntários da Pátria, Azul 29, Titãs, Capital Inicial, Plebe Rude e muitas outras. Foi a Meca do pós-punk paulistano.

Localizada no Centro, próximo ao Minhocão, o Napalm foi inaugurado por Ricardo Lobo. Figuras que se tornariam conhecidas da cena alternativa da cidade, como João Gordo, Clemente, Nasi, a promoter Fernanda Villa-Lobos e o jornalista Alex Antunes, trabalharam lá ou frequentaram o local.

As entrevistas são divertidas e reveladoras. Dado Villa-Lobos conta como a Legião Urbana foi mal recebida pelos punks que frequentavam o Napalm, aos gritos de “Toca mais forte, filho de general!”; Clemente e João Gordo lembram as brigas históricas entre punks e os “metaleiros da Villaboim”.

O grande trunfo do filme são as cenas de arquivo. O dono do Napalm, Ricardo Lobo, teve o cuidado de filmar quase todas as bandas que se apresentavam na casa e de guardar esse material por 30 anos.

Assim, é possível ver cenas raras, como Edgard Scandurra tocando “Inútil” com o Ultraje a Rigor, e trechos de shows de Ira! (ainda com Charles Gavin na bateria), Voluntários da Pátria, Titãs, Capital Inicial, Mercenárias, UTI, Azul 29, Coke Luxe e Inocentes, entre outros. Um registro imperdível de uma época importante do rock brasileiro.

Acho ótimo que canais invistam em documentários sobre arte brasileira. Todos sabemos que o Brasil se preocupa pouco com seu passado e tem um histórico de desprezo pela memória. Casos como o de Ricardo Lobo, que teve a visão de guardar a história do Napalm, são raros. Sorte dele – e nossa – que o filme de Ricardo Alexandre vai mostrar essa história na TV.

Outro fator interessante do filme é perceber como as casas de shows, mesmo pequenas, são os verdadeiros centros de cenas musicais. Não existe cena musical sem lugar para tocar ou trocar experiências. Tomara que venham outros filmes sobre outros locais importantes do rock brasileiro.

Quem se habilita a fazer um sobre o Caverna, templo do metal carioca?

Reprises: quarta, 6/3 às 16h30, quinta 7/3 às 9h, sexta 9/3 às 19h30, sábado 10/3 às 3h30, domingo 11/3 às 15h30.

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Nick Cave, Eels, e a glória do pop sombrio

Por Andre Barcinski
01/03/13 07:05

Crise na música? Que crise? Pelo menos essa semana, o pop está em festa: temos discos novos de Nick Cave e de Mark Oliver Everett para ouvir.

Nick Cave retorna com seu grupo The Bad Seeds em “Push the Sky Away”, enquanto Everett, mais conhecido – ou melhor, desconhecido – simplesmente como E, lança “Wonderful, Glorious”, 10º álbum do Eels.

 


 


 

O que esses dois sujeitos têm em comum? Bom, além de terem lançado alguns dos discos mais bonitos dos últimos 20 anos – ou 30, no caso de Nick Cave – são artistas obcecados com o lado mais sombrio da vida. Não fazem exatamente música para alegrar seu dia, mas para embalar horas solitárias e reflexivas. São, cada um à sua maneira, bluesmen modernos, cavando fundo em lugares escuros para tentar fazer algum sentido de suas próprias vidas.

Mark Everett é filho de HughEverett III, um físico celebrado, que desenvolveu a interpretação de muitos mundos (IMM) da física quântica (ficou curioso? Leia mais aqui) . Mark fez um filme para a BBC sobre o relacionamento com o pai, chamado “Mundos Paralelos, Vidas Paralelas”. Veja só:

 


 

A vida de Mark Everett não foi das mais fáceis: sua irmã, Elizabeth, era esquizofrênica e inspirou muitas músicas de Mark. Elizabeth cometeu suicídio em 1996. Dois anos depois, a mãe deles, Nancy, morreu de câncer. Continuando a maré de sorte da família, a prima de Mark, Jennifer, era aeromoça do avião derrubado por terroristas em cima do Pentágono, em 2001.

A música do Eels, claro, é muito marcada por esse histórico familiar trágico, mas Everett usa humor negro e grande dose de ironia, e consegue transformar tanta dor em uma música surpreendentemente leve e bem humorada. Ele faz um pop minimalista e lo-fi que, para mim, é uma das grandes obras autorais da música pop das últimas duas décadas. Tenho todos os discos e cada dia gosto mais deles.

Já Nick Cave é o mais próximo que o rock criou de um Leonard Cohen desde… bem, desde Leonard Cohen.

Escritor, roteirista de cinema e líder de duas grandes bandas, o Grinderman e o Bad Seeds, Cave está em grande fase.

Seu disco novo com o Seeds, “Push the Sky Away”, é uma coleção de canções lentas e melancólicas, cada uma mais bonita que a outra. Parece que Cave deixou o barulho e a distorção com o Grinderman e resolveu deixar seu lado mais contemplativo e “tranquilo” para o Bad Seeds. Haja talento para balancear tanta música boa em dois projetos desses.

Enquanto ouço “Push The Sky Away” e “Wonderful, Glorious”, vou fazer o que já deveria ter feito há tempos: encomendar a autobiografia de Mark Everett, “Things the Grandchildren Should Know”.

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Frente a frente com Ovelha

Por Andre Barcinski
28/02/13 07:05

Já escrevi aqui sobre o bizarro encontro que presenciei entre Erasmo Carlos e o cantor Ovelha, e a antológica saudação do Tremendão: “Ovelha, meu camarada! Ainda não te tosquearam?”. Mais bizarro ainda foi o resto da noite, em que gravamos uma entrevista com Ovelha para um programa de TV.

 


 

Para quem é novo e não lembra, Ovelha foi um dos cantores mais populares dos programas de auditório dos anos 80. Não havia um programa de Barros de Alencar, Raul Gil, Chacrinha ou Bolinha em que Ovelha não estivesse, com suas longas madeixas de Robert Plant do sertão, sempre cantando a inescapável “Te Amo, Que Mais Posso Dizer?”, versão em português para a canção de Bobby Vee, “More Than I Can Say”.

Levamos Ovelha para um bar nordestino em São Paulo, e o lugar parou quando ele apareceu. Cinquentonas enxutas relembraram suas épocas de auditório e quase pularam em cima do homem.

Ovelha é um dos caras mais engraçados que já conheci. Dá um banho em muito comediante de “stand up” por aí. Tanto que um dos câmeras estava, literalmente, chorando de rir com as histórias do cantor.

Ovelha falou de seu começo na música, como cantor de bailes e boates em Pernambuco. Era conhecido por Midinho, já que seu nome é Ademir. Foi descoberto em 1977 por Chacrinha, numa boate de Recife. “Foi o Chacrinha que me deu o apelido. Ele falou pro filho, Leleco: ‘Aquele rapaz canta muito bem, aquele que tem um cabelo de ovelha!’. Daí o apelido pegou.”

Uma das histórias mais incríveis foi sobre o dia em que Ovelha estava cantando ao vivo no “Perdidos na Noite”, de Fausto Silva, quando começou a ser sacaneado pela dupla de comediantes Tatá e Escova: “Eles chegavam bem do meu lado, imitando o Chacrinha, e gritavam no meu ouvido: ‘Alô, Terezinha! É a Maria Bethânia? É o Ney Matogrosso?’”, lembra Ovelha. “Eu já tinha tomado uma garrafa inteira de Red Label e tava pra lá de Bagdá. Cheguei no ouvido do Tatá e disse: ‘Sai daqui ou eu vou quebrar a sua cara, seu filho da p..!’. Mas eles continuaram: ‘Alô, atenção! É o Sidney Magal?’ E o auditório todo começou a me chamar de bicha, daí eu não agüentei: larguei o microfone e meti a porrada nos dois, daí os seguranças vieram e a gente rolou no palco, uma confusão do c…, o Fausto não estava acreditado!”

A noite terminou com Ovelha dando uma canja no bar, cantando sucessos de Creedence Clearwater Revival, Raul Seixas, Rod Stewart, Wando e, claro, “Te Amo, Que Mais Posso Dizer?”.

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Ainda o Oscar: quando a Academia vai tomar vergonha e chamar Jim Carrey?

Por Andre Barcinski
27/02/13 07:05

Leio que a transmissão do Oscar teve sua maior audiência em seis anos e que atraiu um público mais jovem que o normal. Nada mais lógico: num ano em que Emmanuelle Riva perde para Jennifer Lawrence, não se podia esperar outra coisa.

 

 

 

 

 

 

 

Não vou falar aqui dos prêmios absurdos (Ang Lee por “Pi”? Jennifer Lawrence?)  ou das injustiças cometidas. O Oscar sempre foi um prêmio da popularidade e da diplomacia, então discutir mérito é perda de tempo.

O que mais me surpreendeu foi mesmo a chatice e falta de graça da cerimônia.

Quando anunciaram que Seth MacFarlane iria apresentar o Oscar, achei que havia sido uma boa escolha. É um sujeito jovem, com cancha de palco e fama de grande satirista da cultura pop, especialmente por causa do desenho “Family Guy”, que, embora copie demais “os Simpsons”, tem bons momentos.

Mas MacFarlane foi uma desgraça. Ao longo de três horas e meia, não contou uma piada que prestasse e trocou ironia por grosseria. Além disso, copiou na cara dura textos velhos, incluindo uma piada que Billy Crystal fez em 1998 sobre o fato de James L. Brooks não ter sido indicado a melhor diretor, mesmo que seu “Melhor é Impossível” tivesse sido indicado a melhor filme. MacFarlane praticamente xerocou a piada, dessa vez referindo-se a Ben Affleck, esnobado na categoria melhor diretor por “Argo”.

A maior parte das críticas à apresentação de MacFarlane foi brutal. Na revista “The New Yorker”, Amy Davidson o acusou de sexismo e misoginia (leia aqui). Outros o acusaram de antissemitismo, por causa de uma piada contada pelo ursinho Ted, um dos personagens criados por MacFarlane.

Não sou daquelas pessoas que fica facilmente ofendida e defendo o direito de se fazer piada sobre qualquer coisa. Achei as piadas, antes de tudo, muito ruins. Ruins como eu nunca tinha visto num Oscar. Uma coisa quase amadora.

A cerimônia inteira foi chatíssima. O número excessivo de números musicais – o que foi aquela apresentação com todo o elenco de “Les Misérables” ou o encerramento, com MacFarlane dançando e cantando uma canção sobre os perdedores do Oscar? – abusou da paciência de todo mundo.

Esses musicais lamentáveis só realçaram a beleza do único grande momento da noite, que foi Shirley Bassey cantando o tema de “Goldfinger”. Imagino o que a velha Shirley teria a dizer sobre a cantoria de Russell Crowe e do Wolverine…

Voltando a MacFarlane: de acordo com a audiência e os comentários nas redes sociais, o público gostou e achou que o programa tornou-se mais “jovem” e “arriscado”. Sinceramente, não vi nada de novo e ousado ali. E continuo torcendo muito, mas muito, para chamarem Jim Carrey. Dê uma olhada nesse clipe, em que Carrey apresenta um prêmio a Meryl Streep, e imagine o que ele não faria no Oscar…


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Por que a Nouvelle Vague importa

Por Andre Barcinski
26/02/13 07:05

Se você quer conhecer mais sobre a Nouvelle Vague e entender por que foi um dos movimentos mais radicais e influentes do cinema, não perca o documentário “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague”, que o Telecine Cult exibe hoje, às 22h.

 


 

O filme conta, por meio de imagens de arquivo, a trajetória dos dois maiores expoentes do cinema francês dos anos 60, François Truffaut e Jean-Luc Godard, e relata a amizade que os uniu e as brigas que acabaram por separá-los para sempre.

Truffaut, Godard e mais uma penca de diretores talentosos – Claude Chabrol, Agnès Varda, Eric Rohmer e Jacques Rivette, Alain Resnais, entre outros – injetaram ânimo, inconformismo e liberdade criativa no cinema, enfrentando a banalidade do cinemão comercial e propondo novas formas de filmar.

A turma surgiu entre o fim dos anos 50 e o início dos 60, com filmes esteticamente inovadores e tematicamente radicais, como “Acossado” e “O Desprezo”, de Godard, “Os Incompreendidos” e “Jules e Jim”, de Truffaut, “Nas Garras do Vício”, de Chabrol, e “Cléo de 5 às 7”, de Varda.

Vários cineastas da Nouvelle Vague escreveram críticas de filmes para a revista “Cahiers du Cinéma”. Eles idolatravam o Neorrealismo Italiano e a época de ouro do cinema de Hollywood, especialmente diretores como Orson Welles, Howard Hawks, John Ford, e rebeldes como Samuel Fuller e Nicholas Ray.

A década de 60 foi um período de intensos debates estéticos, políticos e sociais. E o documentário mostra como Godard e Truffaut acabaram se vendo em campos opostos da batalha.

Godard era um iconoclasta e inconformado; Truffaut tinha um gênio mais pacífico e tolerante. E os dois, que no início de suas carreiras foram os maiores defensores do cinema do outro, terminaram brigados e nunca fizeram as pazes (Truffaut morreu em 1984).

O filme tem imagens de arquivo raras e que hoje parecem até ingênuas, ao mostrar jovens artistas que realmente acreditavam que podiam mudar o mundo com o cinema. Todo o radicalismo e espírito de combate da Nouvelle Vague hoje parecem peça de museu, totalmente fora de sintonia com o cinema contemporâneo.

E se a história da Nouvelle Vague é empolgante e os trechos de filmes selecionados são capazes de nos fazer correr à locadora ou ao torrent mais próximo – não ao cineclube, infelizmente – para assistir a alguns dos grandes filmes da época, ver o documentário deixa uma ponta de melancolia por um cinema que já significou mais para as pessoas.

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Precisamos falar sobre Kevin

Por Andre Barcinski
23/02/13 17:26

Falou-se muito, nos últimos dias, sobre a punição da Conmebol ao Corinthians. Falou-se mais sobre isso, inclusive, do que sobre Kevin Espada, o menino de 14 anos que morreu no estádio em Oruro, atingido no rosto por um sinalizador disparado da torcida do Corinthians.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proponho uma reflexão. Imagine que os papéis fossem invertidos: uma torcida organizada de um time da Bolívia veio apoiar seu time em algum estádio brasileiro – não importa se o Pacaembu, o Engenhão, o Mineirão, qualquer um.

No meio do jogo, integrantes dessa organizada boliviana soltam um sinalizador, que atinge e mata um menino brasileiro de 14 anos.

Como os brasileiros reagiriam?

Em primeiro lugar, gostaríamos de ver todos os responsáveis presos, claro. E não só o que disparou o sinalizador, mas também os que levaram os artefatos para o estádio.

Depois disso, tenho certeza que todos gostariam de saber como esse sinalizador entrou no estádio. Quem o comprou? Quem pagou por ele? Como ele foi trazido da Bolívia para o Brasil? Como entrou no estádio? Havia outros sinalizadores iguais com a torcida?

Finalmente, seria preciso descobrir se existe relação entre o clube boliviano e esse torcedor. Quem pagou a viagem do torcedor até o Brasil? O clube banca os ingressos desse torcedor? Os dirigentes do clube conhecem e apóiam esse torcedor?

Se ficar comprovada a relação entre o clube e o torcedor, o clube também precisa ser responsabilizado.

O que não pode ocorrer é o festival de demagogia e hipocrisia que estamos vendo: de um lado, torcedores rivais culpando os corintianos, como se todos os corintianos – e só eles – fossem criminosos. Um nojo.

Do outro, dirigentes e boa parte da mídia esportiva, tentando imputar o crime a uma pessoa só, como se fosse um caso isolado, e fazendo de tudo para inocentar o clube. Isso é imoral.

Vamos deixar uma coisa bem clara: não falo só do Corinthians, mas de TODOS os clubes brasileiros que têm relações promíscuas com as organizadas: eles precisam, de uma vez, cortar qualquer ligação com as torcidas.

Os torcedores de verdade – não os profissionais da arquibancada – deveriam exigir que seus clubes rompessem imediatamente com essas facções.

Além disso, os clubes tinham a obrigação moral de responder a algumas perguntas: eles dão ingressos para as organizadas? Dão dinheiro? Existem membros de organizadas trabalhando nos clubes? Quantos torcedores profissionais são sustentados pelo clube?

Sobre a punição ao Corinthians, achei justa. Infelizmente, nossos dirigentes têm os bolsos mais sensíveis que as consciências.

Espero que, além de presos os responsáveis pelo sinalizador, se apurem as responsabilidade de dirigentes e do próprio clube também, para que todos os clubes – TODOS – aprendam que apoiar organizadas pode ser bom negócio a curto prazo, mas tem seu preço no fim.

E enquanto alguns reclamam de não poder ver seu time no estádio e o Corinthians vergonhosamente tenta chantagear a Conmebol, ameaçando tirar o time da Libertadores, a família de Kevin Espada enterra o menino.

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Ou acabam as organizadas ou acaba o futebol

Por Andre Barcinski
22/02/13 10:23

Não interessa de que time é o “torcedor” que disparou o sinalizador que matou o menino Kevin, de 14 anos, em Oruro.

O que aconteceu lá poderia ter acontecido no Engenhão, no Mineirão, nos Aflitos, ou em qualquer estádio do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reduzir o crime a um incidente isolado, ou culpar apenas um torcedor de uma determinada torcida organizada de um determinado time, não só é injusto, como imoral. O problema é geral.

A verdade é que o futebol, como nós o conhecemos, acabou. E a culpa é da violência nos estádios.

Já nos acostumamos a clássicos com uma torcida só, ou com a torcida visitante reduzida e espremida em um canto. Virou a regra.

Se você mora em São Paulo e tem um filho que começou a gostar de futebol agora, nunca – repito, NUNCA – poderá levá-lo para ver um clássico estadual como deveria ser, com o estádio dividido em dois e a emoção que só o futebol pode proporcionar.

De quem é a culpa? Só das organizadas? Claro que não. Todos são culpados: as organizadas, os clubes que as apóiam, a polícia que não as reprime, políticos que lhes devem favores, as federações que não as punem, os jogadores que lhes puxam o saco, e até os torcedores comuns, que cantam as músicas grotescas de louvor à violência.

Acabar com o poder das organizadas é necessário. Mas há vontade de fazer isso? Os clubes vão conseguir viver sem o apoio bélico desses torcedores profissionais? Os políticos terão coragem de ir contra essa massa que lhes dá votos?

Enquanto isso não acontece, os torcedores de verdade, aqueles que pagam ingresso, que gostam de seus times e querem levar seus filhos ao estádio com segurança, ficam reféns desses profissionais.

E assim vamos vivendo, tendo nossas liberdades individuais tolhidas diariamente. Já não podemos ir aos estádios. Se um cretino invade a apuração das escolas de samba e rasga envelopes, proíbe-se a entrada de torcedores. Como sempre, é mais fácil proibir que remediar.

Como acabar com as organizadas? Isso é tarefa para especialistas. Na Inglaterra, onde o problema era tão ruim quanto o nosso, deram um jeito. Acho que um bom começo seria cortar os benefícios delas, fichar os diretores, responsabilizar os clubes por atos de suas “torcidas”. E todos sabem da penetração de facções criminosas em diversas torcidas organizadas.

Mas a principal mudança teria de partir da sociedade: parar de enxergar esses grupos como “torcedores” e vê-los como o que são: profissionais dos estádios, para quem o futebol é só uma desculpa. Se o esporte mais popular do país fosse o críquete, estaríamos aqui discutindo a violência nos estádios de críquete. As organizadas gostam de futebol porque é onde arregimentam mais mão-de-obra, mais sócios. É um esquema empresarial.

Para finalizar: eu tenho uma filha pequena que gosta de futebol. Eu gostaria de levá-la a um clássico sem medo de levar um rojão na cara ou de apanhar na entrada do estádio. É pedir demais?

P.S.: Hoje, sexta, estarei sem acesso a Internet até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a aparecer, não me xingue, aguarde que, no fim da tarde, volto a moderá-los. Obrigado.

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Oscar: quem vai ganhar (e quem deveria)

Por Andre Barcinski
22/02/13 07:05

Domingo rola o Oscar. Como sempre, a premiação deixa de fora muita gente boa e premia algumas barbaridades. Aqui vão meus palpites nas principais categorias:

 

 

 

 

 

 

 

Filme

Quem vai ganhar: “Argo”

Quem deveria ganhar: “O Mestre”

A Academia conseguiu não indicar “O Mestre”, mesmo com nove indicados na categoria. Será que “O Mestre” é pior que “Os Miseráveis” ou “Indomável Sonhadora”? Acho que ganha “Argo”, um filme mediano, mas bem menos chato que “Lincoln”.

 

Diretor

Quem vai ganhar: Steven Spielberg (“Lincoln”)

Quem deveria ganhar: Paul Thomas Anderson (“O Mestre”) ou William Friedkin (“Killer Joe”)

Uma das maiores barbadas do Oscar. Spielberg leva pelo careta “Lincoln”. Entre os indicados está Michael Haneke (“Amor”), mas o coitado não tem a menor chance. Eu daria u empate entre Anderson e Friedkin.

 

Ator

Quem vai ganhar: Daniel Day-Lewis (“Lincoln”)

Quem deveria ganhar: Joaquin Phoenix (“O Mestre”)

Outra barbada. A Academia não vai resistir à xerox perfeita de Day-Lewis no papel de Lincoln, mesmo que o papel do bêbado, sujo e paranóico de Joaquin Phoenix seja mil vezes mais corajoso.

 

Atriz

Quem vai ganhar: Emmanuelle Riva (“Amor”)

Quem deveria ganhar: Emmanuelle Riva (“Amor”)

Caso raro de prêmio que deve sair para quem merece. Jessica Chastain corre por fora por “A Hora Mais Escura”, mas dificilmente leva.

 

Ator coadjuvante

Quem vai ganhar: Alan Arkin (“Argo”)

Quem deveria ganhar: Phillip Seymour Hoffman (“O Mestre”)

A disputa mais dura do ano. De Niro é o favorito, por “O Lado Bom da Vida”, mas acho que vai dar Alan Arkin. Mas, num mundo justo, nenhum dos dois poderia vencer Seymour Hoffman.
Atriz coadjuvante

Quem vai ganhar: Anne Hathaway (“Os Miseráveis”)

Quem deveria ganhar: Gina Gershon (“Killer Joe”)

Pena que Aracy de Almeida não está mais aqui para detonar a cantoria de Anne Hathaway em “Os Miseráveis”. E pena também que Gina Gershon não foi indicada, pela pilantra “white trash” de “Killer Joe’.

 

Roteiro Original

Quem vai ganhar: Quentin Tarantino (“Django Livre”)

Quem deveria ganhar: Mark Boal (“A Hora Mais Escura”)

Em 2010, Tarantino tinha o melhor roteiro, com “Bastardos Inglórios”, mas Mark Boal venceu por “Guerra ao Terror”. Esse ano os papéis de invertem: Tarantino leva por “Django Livre”, roteiro incomparavelmente pior que o de “Bastardos Inglórios”, enquanto Boal, que fez um roteiro ainda melhor que “Guerra ao Terror”, fica sem prêmio.

 

Roteiro Adaptado

Quem vai ganhar: Tony Kushner (“Lincoln”)

Quem deveria ganhar: ninguém

Outra barbada: junte um dramaturgo renomado, um tema “edificante” e um diretor de renome como Spielberg, e seu roteiro certamente levará o Oscar. E se os concorrentes são só esses (“Argo”, “Indomável Sonhadora”, “As Aventuras de Pi”, “Lincoln” e “O Lado Bom da Vida”, eu não premiaria ninguém.

P.S.: Hoje, sexta, estarei sem acesso a Internet até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a aparecer, não me xingue, aguarde que, no fim da tarde, volto a moderá-los. Obrigado.

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Sabrina Sato e seu problema cabeludo

Por Andre Barcinski
21/02/13 07:05

A notícia é tão ridícula que fico até com vergonha de divulgá-la. Mas vamos lá: o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo para avaliar denúncias de suposto preconceito contra homens peludos, cometido por uma famosa marca de lâminas de barbear.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No anúncio, veiculado na TV, luminares da cultura pop mundial como o cantor Psy, Sabrina Sato e as gêmeas do nado sincronizado, Bia e Branca, incentivam a depilação peitoral masculina.

O Conar diz ter recebido nos últimos dias 15 reclamações  – 14 de homens e 1 de mulher – que consideraram a propaganda preconceituosa.

Nas mensagens encaminhadas ao Conar, os consumidores classificam a propaganda como “preconceito contra os peludos” e afirmam que o filme “tacha” o grupo de homens com pelos no peito como “nojentos”.

Em uma das reclamações, o consumidor lembra que numa propaganda anterior a empresa já havia se referido aos homens peludos como “homem das cavernas”.

Democracia é isso. Mas quem disse que viver em uma é fácil?

Fico imaginando que tipo de pessoa tem tempo e paciência para escrever a algum órgão reclamando sobre esse tema tão importante quanto a defesa da dignidade dos peitos cabeludos.

Será que Tony Ramos parou as gravações de alguma novela para ligar para o Conar? Acho que ele tem mais o que fazer, não?

Será que os defensores dos peitorais capilarmente privilegiados também gastam seu tempo reclamando da qualidade da escola dos filhos? Ou do transporte público?

E a liga dos defensores das pessoas com verruga no queixo, onde está? E o sindicato dos calvos?

Onde estavam os defensores das aves comestíveis quando Costinha, maldosamente, posou nu ao lado de uma ave indefesa na capa de “O Peru da Festa”, submetendo o pobre animal a um trauma terrível?

Finalmente, cadê o sindicato dos míopes, que nunca reclamou do Silva de Chico Anysio? E a liga de defesa dos vesgos, que nunca protestou contra o Cocada?

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