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André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Nelson Freire, Chemical Brothers, Anvil: quando a platéia é o show

Por Andre Barcinski
17/09/12 07:05

Adoro ver filmes de shows. Especialmente quando mostra a reação dos fãs.

Poucas coisas são tão espontâneas e bonitas quanto a emoção que a música provoca em quem está na frente do palco. Acho que todo filme-concerto ganha muito quando consegue mostrar essa relação entre o fã e o artista.

Selecionei trechos de cinco filmes ótimos, que conseguem captar esse momento em que o público está entregue.

Neil Young & Crazy Horse – Weld – Nesse filme, os fãs aparecem quase tanto quanto a banda. E as reações são sensacionais. Confira:


 

Chuck Berry & Etta James – “Rock and Roll Music” – Vale muito a pena ver o documentário sobre Chuck Berry, “Hail! Hail! Rock and Roll!”, que Taylor Hackford dirigiu em 1987. Ajudado por uma banda de primeira, com Keith Richards, Robert Cray e Eric Clapton nas guitarras, Chuck mostra seus grandes hits. Aqui, Etta James arrasa. O filme mostra fãs de todas as idades se descabelando com o show. É verdade que esse trecho com Etta James não mostra muitos fãs, mas a música é tão boa que resolvi incluir o trecho mesmo assim.


 

Nelson Freire – Gluck / Sgambatti – “Melodia”, de “Orfeu e Eurídice” – Outro dia elogiei o documentário “Nelson Freire”, de João Moreira Salles, e um amigo tirou uma onda: “Mas não acontece nada no filme!”. De fato, não acontece muita coisa. Mas o que acontece é lindo demais. Veja essa sequência, em que Freire ouve Guiomar Novaes tocando a “Melodia” da ópera “Orfeu e Eurídice” (música de Gluck, arranjo para piano solo de Sgambatti) e depois toca, ele mesmo, o tema, em um concerto em homenagem a Guiomar. Fico emocionado só de ver a reação da platéia.


 

Chemical Brothers – Don’t Think – Sensacional o DVD com essa apresentação do Chemical Brothers no Japão, totalmente psicodélico e sensorial. E que fica mais bonito ainda com as imagens do público japonês em delírio.


 

Anvil – Cut Loose e Mad Dog – Viu o documentário “The Story of Anvil”? É um dos filmes mais engraçados e emocionantes sobre uma banda de rock. Separei um pequeno trecho que mostra os dois maiores fãs da banda, um par de alucinados chamados Cut Loose e Mad Dog.E abaixo, confira os dois pagando mico em um show de outra banda canadense, Razor. Nada mais divertido que devoção de metaleiro…



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A melhor revista de música do mundo?

Por Andre Barcinski
14/09/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem diz que o jornalismo musical está moribundo tem uma missão: correr até a banca ou livraria mais próxima e comprar a edição de setembro da revista inglesa “Mojo”. Tem muita coisa boa junta.

A capa traz uma matéria assinada por Jon Savage, autor de “England’s Dreaming”, fundamental relato da história do punk, chamada “Como a Música Eletrônica Salvou David Bowie”.

O artigo conta o fascínio que os sons eletrônicos causaram em Bowie a partir do meio dos anos 70 e como influenciaram sua obra desde então.

A revista traz também uma lista dos “50 melhores discos eletrônicos” de todos os tempos e entrevistas com alguns dos nomes fundamentais do gênero, como Jean Michel Jarre, Terry Riley, Derrick May, Giorgio Moroder, Manuel Göttsching, Alex Paterson e Martin Gore.

Saindo da música eletrônica, tem entrevistas com Ray Davies (Kinks), Animal Collective e Van Dyke Parks, músico que trabalhou com os Beach Boys, Phil Ochs, Byrds e Frank Zappa. E um artigo sobre a banda inglesa de ska The Beat.

Para completar, a revista vem com um CD compilado por Daniel Miller, da famosa gravadora inglesa Mute, chamado “Uma Breve História do Som do Futuro”, em que Miller traça a linha evolutiva da música eletrônica, de Can e Throbbing Gristle a LCD Soundsystem e Pan Sonic.

Essa edição é prova de que alguém pode pegar assuntos batidos e transformá-los em leitura fascinante. Basta talento e conhecimento.

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“Possessão”: filme clássico, trilha clássica...

Por Andre Barcinski
13/09/12 07:05


 

No meio dos anos 80, um filme freqüentou as sessões de meia-noite em cineclubes de Rio e São Paulo e fez a cabeça de muita gente: “Possessão” (1981), do polonês Andrzej Zulawski.

Parte horror gótico, parte drama familiar, “Possessão” é um ensaio sobre a solidão, um dos filmes mais emblemáticos da fase final da Guerra Fria e da exaustão e distanciamento que ela causava na Europa.

Resumindo, o filme relata a desintegração do casamento de Anna (Isabelle Adjani) e Mark (Sam Neill). Mas a história do casal é só o pano de fundo para Zulawski falar do abismo político e humano que ele, exilado na França, conhecia muito bem.

“Possessão” é um filme gelado, filmado em tons pastel e cenários esparsos. Sua mistura de erotismo, sangue e política o tornou um “cult” nos anos 80. Não duvido que Lars Von Trier tenha passado muitas noites em cineclubes na Dinamarca assistindo a essa obra-prima.

Além de uma trama misteriosa e sobrenatural e um clima envolvente de paranóia, o filme tem uma trilha sonora eletrônico-minimalista que se tornou clássica entre fãs de música experimental.

Composta pelo polonês Andrzej Korzynski, a trilha acaba de ser lançada pelo selo Finder’s Keepers. Já encomendei meu CD.

De acordo com a gravadora, mais da metade das 25 composições do CD ficaram de fora do filme e nunca foram ouvidas por ninguém além do próprio Korzynski.

Aqui vai um gostinho da genialidade de Korzynski. Ouça a composição que abre o filme, “The Night the Screaming Stops”.


P.S.: Hoje estarei com acesso limitado à Internet. Por isso, alguns comentários podem demorar a entrar no ar. Peço desculpas antecipadamente pela demora. 

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“Picardias Estudantis”: parece que foi ontem

Por Andre Barcinski
12/09/12 07:05


 

Imagine um filme que reúna ótimos atores como Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forest Whitaker e Eric Stoltz, um astro como Nicholas Cage e um ator conhecido da TV como Anthony Edwards (o Dr. Mark Greene de “Plantão Médico”).

Agora, imagine que esse filme será escrito por Cameron Crowe, diretor de “Jerry Maguire” e “Quase Famosos”, e dirigido por Amy Heckerling, responsável por sucessos como a série “Olhe Quem Está Falando”.

Impressionante, não?

Mas esse filme já existe. Aliás, foi lançado há exatos 30 anos e marcou a adolescência de toda uma geração.

Chama-se “Fast Times At Ridgemont High”. No Brasil, “Picardias Estudantis”.

Além de todos esses atores que citei, o filme tinha ainda Judge Reinhold (conhecido como o parceiro de Eddie Murphy em “Um Tira da Pesada)” e a gatíssima Phoebe Cates, musa teen que depois casou com o ator Kevin Kline e abandonou a carreira de atriz.

“Picardias Estudantis” foi, para a geração dos anos 80, o que “American Graffiti” (1973), de George Lucas, representou para a geração anterior: um filme que lançou vários nomes que se tornariam famosos no cinema. Basta lembrar que Ron Howard, Richard Dreyfuss e Harrison Ford estavam no elenco do filme de Lucas.

Revi “Picardias Estudantis” outro dia. Está longe de ser um grande filme, mas, comparado à atual safra de comédias juvenis hollywoodianas, parece “Cidadão Kane”.

E tem o trunfo de contar com Sean Penn, vivendo um dos maconheiros mais engraçados do cinema, o surfista Jeff Spicoli.

Achei uma galeria de fotos que mostra o elenco de “Picardias Estudantis” hoje e há 30 anos. Confira aqui.

Dá vontade de rever o filme pela trigésima vez…

P.S.: Hoje estarei com acesso limitado à Internet. Por isso, alguns comentários podem demorar a entrar no ar. Peço desculpas antecipadamente pela demora. 

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Essa seleção é o Jonas Brothers do futebol

Por Andre Barcinski
11/09/12 09:27

 

 

 

 

 

 

Ainda chocado com o teatrinho ridículo de Mano e da seleção ontem à noite.

Para quem não viu: a CBF trouxe um boi de piranha – a China – para ser goleado e aliviar a pressão em cima do técnico Mano Menezes, que faz um trabalho esquizofrênico no comando do time.

Na verdade, seriam dois bois de piranha, mas a seleção brasileira é tão ruim que fez jogo duro até com a África do Sul.

A China, me perdoem os orientais, é uma piada. Acho que foi a pior seleção profissional que já vi jogar. Sem exagero, esse time chinês perderia da seleção brasileira feminina.

O time de Mano ganhou de 8 a 0 e saiu de campo com aquela pompa de “dever cumprido”.

Jogadores só falavam da “ótima atuação” contra “um adversário de respeito”. Na coletiva, Mano teve a pachorra de dizer as palavras “China” e “forte” na mesma frase.

E o pior é perceber que não houve UM jornalista para questioná-lo. As perguntas variaram do patriotismo mais rasteiro (“O time parecia muito unido ao cantar o hino…”) ao puxa-saquismo mais embaraçoso (“O Brasil não deixou a China jogar…”).

Para piorar, técnico e jogadores exaltavam a torcida nordestina e creditavam ao “grande apoio” dela a atuação do time.

“Grande apoio”? Onde?

O estádio do Arruda recebeu 29.658 pessoas. Ano passado, quando estava na 4ª divisão do Brasileiro, a média de público do Santa Cruz era de 36.916 pessoas.

A torcida nordestina foi tratada como claque de programa de auditório. Pelas declarações exultantes dos jogadores e de Mano, parecia que a única coisa que se esperava do torcedor nordestino era apoio cego e incondicional, por pior que jogasse o time.

É muito triste perceber que o escrete canarinho virou um joguete de relações públicas na mão da CBF.

Triste notar que Mano, com a cara de pau que estamos acostumados a ver em políticos, escala o são-paulino Lucas de titular num jogo no Morumbi e o nordestino Hulk para um jogo em Recife.

Mais que um teatrinho, a seleção parece uma “boy band”, tipo Jonas Brothers.

Temos um produto – o time – de qualidade sofrível, mas que é vendido como a última bolacha do pacote.

Os “atores” – os jogadores – são jovens, bonitinhos e facilmente manipuláveis, prontos a bater continência para qualquer coisa que o empresário – a CBF – disser.

Nos “shows”, todos têm seu script: o time ganha de um adversário ridículo, a claque bate palmas, e os jornalistas, ou melhor, assessores de imprensa, tratam de levantar a bola do time.

Nossos Jonas brothers têm até coreografia. É só ver a dancinha de Lucas e Neymar após um dos gols de ontem.

Para completar, chega o intervalo do jogo e qual o primeiro comercial que pinta na TV?

O super-herói Neymar, chutando a caspa para longe com chutes de videogame.

Chega logo, Maracanazo!

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Roberto Silva se foi; o último cantor a sair apague a luz, por favor...

Por Andre Barcinski
11/09/12 07:05


 

Domingo calou-se uma das grandes vozes do Brasil: Roberto Silva, o “Príncipe do Samba”, morreu em sua casa em Inhaúma, no Rio, bairro onde morava desde criança. Tinha 92 anos.

Roberto Silva era um dos últimos remanescentes da época de ouro do rádio.

Começou a cantar na década de 30. Seu primeiro disco foi lançado em 1946. E, mesmo aos 92, continuava cantando e fazendo shows.

Vi um show de Roberto Silva há uns oito anos. Foi uma coisa linda. Uma volta a uma era em que cantores, com o perdão da expressão óbvia, “cantavam de verdade”.

Não tinha Pro Tools, não tinha coreografia, não tinha corinho atrás para maquiar uma voz fininha: Roberto Silva continuava mandando aquela voz aveludada de fraseados perfeitos.

E o repertório?

“Agora é Cinza” (Bide e Marçal), “A Voz do Morro” (Zé Keti), “Se Acaso Você Chegasse” (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins) e minha favorita, “Aos Pés da Cruz” (Marino Pinto e Zé da Zilda). Só clássicos.

Não é à toa que Roberto Silva era o cantor predileto de João Gilberto.

Ontem mesmo, via Twitter, alguém perguntou se havia sobrado algum cantor de verdade no Brasil.

Juro que tive de pensar por um tempinho para responder. Mas lembrei que Cauby Peixoto ainda está vivo.

E, goste ou não do estilo, não dá para negar que Agnaldo Timóteo não seja um baita cantor.

De resto, todos já se foram. Sobrevivem em disco.

De Roberto Silva, recomendo o CD da série “Dois em Um” que a EMI lançou em 1999, reunindo os dois primeiros volumes da série “Descendo o Morro”. Procure que vale a pena.

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O que Criolo e Joe Strummer têm em comum?

Por Andre Barcinski
10/09/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

Abro a revista inglesa “Mojo” de setembro e vejo uma crítica superpositiva de David Hutcheon ao disco “Nó na Orelha”, de Criolo.

Hutcheon dá quatro estrelas em cinco para o disco e elogia seu ecletismo: “Hip hop, reggae e o brutal ruído industrial do funk brasileiro são só metade da história”, escreve Perry. “Samba, grooves africanos e baladas completam a mistura (…) Vale a pena ver Criolo quando ele se apresentar no Reino Unido em novembro.”

Bacana.

Algumas coisas, no entanto, me chamaram a atenção no texto.

Primeiro, Hutcheon diz que o cantor “cresceu num cortiço de chão de lama e sem água corrente.” Depois, que ele chegou “ao topo das paradas no Brasil”.

Lembrei de uma entrevista de Criolo que li na revista “Trip” (veja aqui), que trazia uma galeria de fotos da infância do artista.

Dê uma olhada na galeria: as fotos mostram uma família muito humilde, claro, mas “um cortiço sem água corrente”?

Quanto a “chegar ao topo das paradas no Brasil”, sinceramente, não achei nada que corroborasse essa informação. Nada.

Fiquei curioso. Procurei outros artigos sobre o artista na imprensa internacional.

Achei uma entrevista de Criolo a Marlon Bishop, do site “MTV Iggy”. No texto, Bishop afirma: “De repente, ele (Criolo) estava no topo dos line-ups de todos os festivais mais importantes.”

Será?

Busca rápida na Internet: no festival Planeta Terra de 2011, Criolo abriu o palco, às 4 da tarde. No Roskilde, da Dinamarca, tocou no meio da tarde, no terceiro palco. E no Sónar, em São Paulo, se apresentou no palco secundário, no mesmo horário do Kraftwerk.

Alguns vão dizer: “Ah, o cara não gostou do disco do Criolo e agora está criticando o sujeito.”

É fato que não gostei do disco. Para falar a verdade, achei péssimo. Mas isso não vem ao caso. É minha opinião pessoal e não tem a menor importância aqui.

Isso não tira o mérito de Criolo, que fez um trabalho muito elogiado e produzido de forma independente, sem apoio de grandes gravadoras ou rádios. Parabéns a todos os envolvidos.

Mas o fato de a biografia do artista conter algumas informações no mínimo questionáveis levanta algumas lebres.

A primeira é que, em pleno século 21, um artista ainda é julgado por sua origem social e não só pela qualidade de seu trabalho. Acho isso um desrespeito com o próprio artista. É como se ele só pudesse escrever sobre determinado tema.

Existe um ranço de culpa primeiro-mundista que faz com que TODOS os artigos sobre Criolo comecem falando de sua infância pobre. Por quê? Porque ele vem de um país do Terceiro Mundo?

Ora, Louis Armstrong era filho de uma prostituta e passou a infância comendo lixo em New Orleans, mas você não vê nenhum artigo que inicia: “Armstrong, filho de uma puta e que sobreviveu comendo restos de lixo, revolucionou o jazz.”

Louis Armstrong é julgado por seu talento e nada mais.

A segunda questão é como pequenas “lendas” na biografia de um artista são importantes para a construção de seu mito. Isso é uma constante na história do pop.

Joe Strummer, do Clash, era um proletário anarquista e revolucionário, certo?

Errado: era filho de um diplomata.

Bob Dylan, antes de tornar-se bardo “folk” no Greenwich Village, fugiu de casa, cruzou o país clandestino num trem e se juntou a um circo, correto?

Errado: era um judeu classe média, que morria de vergonha do passado e fez de tudo para escondê-lo.

Quer um exemplo mais próximo? Nos anos 70, o produtor Mister Sam lançou no Brasil uma cantora “alemã” de discoteca, que não falava uma palavra de português e enlouquecia os homens com seu rebolado.

Na verdade, chamava-se Maria Odete, era recepcionista e cantora da banda do maestro Zaccaro.

Seu nome: Gretchen.

P.S.: Esse texto já estava pronto e programado para publicação quando eu soube da morte do grande cantor Roberto Silva. Amanhã, uma homenagem aqui ao “Príncipe do Samba”.

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O homem que sonha com discos

Por Andre Barcinski
07/09/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não dá para falar da história do rock no Brasil sem citar a Baratos Afins. Fundada em 1978 e localizada dentro da Galeria do Rock, em São Paulo, não é só uma das lojas de discos mais conhecidas e admiradas do país, mas um selo muito influente.

A Baratos lançou discos importantes de Arnaldo Baptista, Itamar Assunção, do rock alternativo paulistano (Fellini, Mercenárias) e relançou Mutantes e Tom Zé muito antes de David Byrne ou Kurt Cobain se interessarem.

O “chefão” da Baratos é um sujeito baixinho e engraçado chamado Luiz Calanca.

Sempre considerei Luiz uma espécie de embaixador do “alternativo” em São Paulo. É um sujeito que fez tudo sozinho: abriu lojas, lançou discos, promoveu shows, ressuscitou artistas esquecidos e lançou muitos desconhecidos.

E nunca – nunca mesmo – conheci alguém que gostasse tanto de música.

Dia desses, por conta de uma pesquisa para um livro, bati um papo longo com Luiz. Foi divertido demais.

Calanca gosta tanto de discos que até sonha com eles:

“Outro dia, sonhei que uma prateleira de vinis lá na loja despencou em cima de mim”, conta Luiz. “No sonho, eu era uma mortadela, e os discos que caíam em cima de mim me fatiavam.”

Freud explica.

Luiz contou que tinha acabado de comprar um lote de oito mil vinis de uma loja que havia fechado as portas – mais uma – na Galeria do Rock.

Quando foi separar os discos, percebeu que havia mais de 1700 cópias do mesmo LP, “Remota Batucada” (1985), de May East,  ex-integrante da Gang  90 e as Absurdettes.

Luiz começou a dar os discos de presente para qualquer um que entrasse na loja. “Era a única maneira de me livrar, ninguém queria os discos.”

Distribuiu tantos que, pouco tempo depois, alguns colecionadores gringos começaram a procurar o disco. “Um sujeito ouviu o disco do outro, gostou, e começou a se interessar pela May East. E hoje rola até um hype desse LP na gringa.”

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Ciclofaixa da Paulista: quem ganha mais, o povo ou o patrocinador?

Por Andre Barcinski
06/09/12 07:05

 

 

 

 

 

 

 

 

Domingo foi inaugurada uma faixa para ciclistas na Avenida Paulista, em São Paulo.

Aos domingos e feriados, de 7 às 16h, o ciclista poderá percorrer 5 km ao longo da Paulista (2,5 km em cada sentido).

É um trajeto ridiculamente pequeno, mas digno de elogios devido à escassez de ciclofaixas na cidade. Que venham mais.

O que me chamou a atenção, mais que a inauguração da faixa, foi o fato de ela ter sido custeada com o patrocínio de uma empresa de seguros.

No site da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o texto que informa sobre a inauguração da ciclovia cita, logo no segundo parágrafo, o nome da empresa patrocinadora (veja aqui).

OK, sou a favor de parcerias entre o público e o privado. Mas o que está acontecendo em São Paulo já deixou de ser apenas uma “parceria”: a cidade está sendo doada a empresas privadas.

Os moradores de São Paulo não pagam impostos altíssimos? Então por que a prefeitura precisa de dinheiro privado para fazer uma ciclofaixa?

Não fui à inauguração da tal faixa, mas as fotos dizem muito: ciclistas passeando felizes, ao lado de “monitores” vestidos com camisetas da tal empresa e de placas com o logotipo da mesma.

Será que nada de bom e novo que é feito em São Paulo pode ser realizado só pelo poder público? Tudo tem de ser uma jogada de marketing? É tão caro para a prefeitura pintar uma faixa no chão e usar a CET para orientar os motoristas?

Há tempos, a cidade vem parecendo, cada vez mais, um shopping a céu aberto.

Como disse, sou a favor de o poder público fazer parcerias com empresas privadas. Mas as ruas são públicas, as ciclofaixas também, e não devem ser usadas como vitrine para ações de marketing de ninguém.

No Brasil, o limite entre o público e o privado está sumindo. E a razão é simples: nossos impostos são tão mal usados, que agradecemos quando uma empresa privada faz o que deveria ser responsabilidade do poder público.

Eu gostaria de pedalar numa ciclofaixa pública. Posso?

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O futebol-arte morreu; viva o futebol-chororô!

Por Andre Barcinski
05/09/12 08:58

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje começa mais uma rodada do Brasileirão.

Nesse campeonato tão equilibrado, ninguém pode prever os resultados dos jogos.

Mas há coisas que podemos prever sem medo de errar.

– Metade do tempo dos debates esportivos será dedicado a discutir se determinado juiz errou contra certo time.

– Alguns técnicos e jogadores darão entrevistas revoltadas, denunciando um esquema para derrubar seus times.

– Cartolas e dirigentes de fora do “eixo Rio-São Paulo” (aliás, quem criou essa expressão abominável?) dirão que a CBF está favorecendo os times do “eixo”.

– Cartolas e dirigentes do “eixo Rio-São Paulo” dirão que a CBF está tramando para dar o título a um time de fora do “eixo”.

– Jornalistas relembrarão os 768 erros de arbitragem do campeonato e atualizarão o ranking dos times mais roubados e mais favorecidos.

– As mídias sociais vão ferver com conspirações, tramóias, boatos e segredos sobre esquemas de favorecimentos: “Tenho um amigo que conhece fulano na CBF, que me contou…”.

Faz tempo que o Brasil deixou de ser o país do futebol-arte. A nova onda é o futebol-chororô.

E como surgiu esse estilo lacrimejante de disputar o esporte bretão? Por que nossos craques passam mais tempo se jogando no gramado para cavar faltas do que treinando para melhorar seus fundamentos?

Discussões sobre erros de árbitros sempre fizeram parte do futebol, mas nunca com a freqüência e importância que têm hoje no Brasil.

Acho que essa onda começou para valer depois do Brasileirão de 2005, quando foi descoberto o esquema de corrupção na arbitragem, envolvendo o juiz Edilson Pereira de Carvalho.

Depois daquele episódio, virou moda creditar a derrota ao juiz.

O assunto ficou tão popular que as emissoras passaram a investir cada vez mais em comentaristas de arbitragem, “tira-teimas” e outros artifícios para julgar a qualidade do árbitro.

Mas a coisa chegou a tal ponto que o futebol ficou em segundo plano. Técnicos e jogadores raramente fazem um mea culpa quando perdem. A culpa é sempre do árbitro.

E nossos jogadores, que já nasceram na era eletrônica, cercados de câmeras de TV por todos os lados, viraram especialistas em fazer gestos histriônicos e teatrais, para colocar pressão em cima do juiz.

Antigamente, jogadores falavam com o árbitro. Hoje, fazem mímica: vinte e dois Marcel Marceaus num campo de futebol.

A arbitragem do Brasileirão é ruim? É péssima. Mas é péssima para todos os lados.  Não há um time que tenha sido só prejudicado ou só favorecido.

E como fazer para acabar com isso? Eu faço minha parte: quando começa o chororô na TV, mudo logo de canal.

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